terça-feira, 2 de outubro de 2012

Entre Linhas & Vidas

Documentário sobre alfabetização realizado a partir de pesquisa e do cotidiano escolar de estudantes da educação de jovens e adultos. Trata-se do imaginário da infância, do fracasso, sucesso, superação e apropriação da escrita.

Caros amigos e amigas, este documentário foi feito há alguns anos. Mas infelizmente só agora consegui disponibilizar sua divulgação. Abraço!

Com legenda


sexta-feira, 25 de maio de 2012

A ENCRUZILHADA DA ESCOLA


Texto à disposição das possíveis correções, adendos, ponderações, notas, observações entre outras contribuições que possam enriquecer o teor da discussão suscitada.

“Dia a dia nega-se às crianças o direito de ser crianças. Os fatos, que zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiros, para que se acostumem a atuar com o dinheiro atual. O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem desde cedo como destino, a vida aprisionada. Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.”
 Eduardo Galeano “A Escola do Mundo às Avessas”

Para pensar a escola pública ora difusa, porém, difundida e definida em um mercado inspirado na velha concepção da sociedade capitalista nos encontramos em uma encruzilhada ideológica onde confundem até mesmos os mais “progressistas” educadores do discurso sobre a educação no Brasil.
Termos como “fator para a formação do país”, “produção de cidadania”, “ascensão social”, “escola de paz” ou não violência (criada pelo próprio Estado), “educação para o trabalho”, etc. são utilizados hoje para criar consenso e justificar ações “administrativas” de dominação social, mas jamais para pensar a escola como consequência das lutas e conquistas da classe trabalhadora.
            Fruto do discurso reacionário e do discurso “progressista” cuja crença nas reformas aponta saídas para mudança social que impedem sistematicamente, o pensar crítico dos sujeitos envolvidos no processo educativo para uma transformação radical da sociedade.
Uma professora baseada em seus anos de magistério disse: “quando o estado quer incutir suas ideias seus projetos na grande massa utilizam-se da escola, vi isso em todos os governos, mandavam fazer isso, mandavam fazer aqui”.  A sua descoberta, traz à tona a função da escola como mecanismo para controle e manipulação das massas.
Na história do Brasil, tal observação já podia ser constatada pelo corporativismo da relação de trabalho com o Estado Novo. Ladraram os “cães de Getúlio” sem ler e escrever; até o autoritarismo do Governo Militar cuja organização coletiva da escola estava baseada no interesse pelo trabalho e a reorganização do mesmo. Vale destacar o modelo da escola industrial, iniciada na década de 20, incorporada ao ideal liberal do Governo Vargas, a partir da década de 40, com o trabalho produtivo e os sistemas de ensino voltados para a indústria. SenaiSenacSenarSestSebrae (juntos vão forma o sistema “S”) e redes de escolas técnicas federais em contexto de expansão do capital monopolista irão permanecer no poder burocrático, nas diretrizes empresariais e na abundância de recursos junto ao ministério do trabalho e da educação.
 A essa lógica de dominação, “desfigura-se o profissional da educação”, sem identidade com a massa que se torna objeto de um depósito chamado escola. Neste sentido esta escola se apresentará como um paliativo fundamental para tapar a ferida produzida pela manutenção das desigualdades sociais e econômicas. Vê-se aberta as suas portas para o mundo do trabalho. Assim, instituía-se a escola como um espaço que contribuiria para a integração econômica formando a força de trabalho que seria absorvida pelo mercado (mesmo que não dando conta desta absorção).
Certo autor, ao analisar a luta de classe na França dizia: “que os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquela com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado...”
Com a reestruturação do capitalismo, reestruturação produtiva e social, sobretudo a partir da década de 90, para pensar a educação no atendimento das necessidades do mercado de trabalho e a lógica empresarial.  Desfiguram-se os fundamentos remodelados de acordos firmados no governo de ditadura militar, MEC-USAID (Agência Internacional de Desenvolvimentos dos Estados Unidos), que atuava diretamente em todos os níveis de ensino, na administração, planejamento, estrutura curricular e seus conteúdos, contratação de pessoal, controle de publicações e na distribuição de livros. Deste modo, as reformas educacionais da ditadura foram orientadas, sobretudo por esses acordos.  Na alfabetização, por exemplo, o método crítico que seria implantado pelo PNA (Plano Nacional de Desenvolvimento) é suplantado pela CRUZADA ABC (ação básica cristã) e pelo MOBRAL (movimento brasileiro de alfabetização) para combater as ações das Ligas Camponesas e outras organizações de base.
A LDB (lei de diretrizes e bases), aprovada em 1996, avança na concepção legal da educação, aumenta-se o número de matrículas (por pressão do capital interno e externo) e flexibiliza os espaços para a formação profissional na qualificação para o trabalho.
Este aspecto ganhou visibilidade no governo FHC, onde se difundiu a ideologia do “fim das classes sociais” e o recorporativismo: trabalhadores agora participam e colaboram com as empresas. Pensar em reestruturação do capital sem a reestruturação de sua própria concepção é inconcebível. É neste sentido que, gradativamente, há o esvaziamento de qualquer espaço de reflexão na escola que transforma a consciência dos sujeitos nela envolvidos.
O currículo sempre revisto à luz do mercado, retirando qualquer metodologia que possa pensar a realidade da massa ou que faça refletir os problemas estruturais gerados por este sistema, diga-se o problema da terra, o inchamento das periferias das grandes cidades, o desemprego sem proteção social, fome (miséria), o abandono, o trabalho infantil e a violência, e a retirada de serviços, produto das conquistas sociais (saúde, educação, saneamento).
          A formação profissional significa aumentar a produtividade do trabalho, a qualidade e a competitividade dos produtos, gerar riquezas. Contudo a esta concepção dois fatores podemos destacar: primeiro, a concepção educacional não consegue acompanhar ou inserir-se dentro do modelo de produção toyotista, onde não se aplicaria ao Brasil, visto que as orientações do modelo de produção na escola ainda estão inseridas dentro de uma visão taylorista-fordista, tendo em vista o baixo desempenho da formação da classe trabalhadora. Inclui-se a isto a distância cultural da classe de trabalhadores semi-analfabeta perante as exigências cognitivas postas pelas transformações de produção.
O taylorismo corresponde ao método de organização do trabalho que eliminou o tempo perdido e o aumento da produção reduzindo o trabalho humano a gestos repetitivo, sem permitir ao trabalhador desenvolver habilidades criativas.  O mesmo se verificará com o fordismo, com o sistema de linhas de montagens que mudará o modo de produzir e a expansão aos mercados, ao incorporar a produção em série à indústria automobilística.  O modelo toyotista, por sua vez, trata-se de um modelo flexível de produção, em que o operário é qualificado permanentemente para desempenhar diversas funções no processo produtivo.  Este modelo desenvolveu-se nas fábricas japonesas a partir da 2º Guerra Mundial com o desenvolvimento urbano-industrial que se consolidará como período técnico-científico após década de 70.  A informatização do processo produtivo vai apontar a novos ritmos da produção industrial, as demandas do mercado, diminuindo a estocagem de matéria-prima e de produtos.
Segundo, a formação da nova demanda de mão-de-obra coloca-se dentro de uma “qualidade da educação escolar”, juntamente com a dos processos de “qualificação e requalificação da força de trabalho”. Deste modo percebe-se que é na base da formação geral da classe trabalhadora, base da educação formal, que tem sido pensado este novo “profissional” apto a novos modelos de produção, subordinados à lógica do mercado e do capital. Considerando isto, podemos perceber como se apresenta as diversas instituições tecnológicas na formação/preparação deste trabalhador.
O sistema “S” repensado sob a luz da política internacional continuará sua atuação de acordo como o estágio ou classificação dada ao trabalhador, por exemplo, o Senai cuidará de se aproximar da preparação do trabalhador polivalente, que se encontra nos primeiros estágios da formação básica: formará o trabalhador operacional. Enquanto outras, junto às escolas técnicas, a um segundo nível, à formação de técnicos com aprendizagem dos fundamentos e conceitos do processo produtivo.
A reestruturação e expansão do ensino médio, por exemplo, acompanha e confirma as políticas dessa reforma do ensino. O “novo” currículo aponta para a inserção da vida econômico-produtiva. Apontando a este caminho as redes de ensino estaduais do país que detém hoje mais de 85% das matrículas do ensino médio.
Os rumos atuais desse processo acompanham a reforma educacional instituída pelo Governo Federal na gestão FHC, cujas orientações de instituições financeiras vêm indicando uma série de medidas para o setor, sobretudo, os indicativos de privatização do ensino superior. A iniciativa privada é representada por 70% dessas instituições no Brasil.
Embora nas últimas décadas, tenha se ampliado o acesso à educação básica, que antes era privilégio de uma minoria e passou a ser direito da maioria. A formação dessa maioria está voltada para a escolha da minoria e restrita a concepção e compreensão de mundo calcada na ótica do mercado e inspirada no modelo de produção. Não há lugar para o ser humano; nem este é o centro do processo de educação. Somado a isto vale ressaltar que o acesso à escola não garante melhores condições de vida a população pobre, sobretudo porque não há crescimento de emprego e sim aumento de mão-de-obra disponível. Cursos de educação profissional, voltado para qualificação (maior parte da iniciativa privada) vêm aumentando gradativamente, como apontou este ano o IBGE, na pesquisa de amostragem de 2007, onde em cursos de qualificação profissional obteve maior êxito na permanência dos alunos, foram 89,8%, em contraste com a Educação de Jovens e Adultos (não tão valorizados pelos sistemas de ensino) com 57,3%.
Nesta lógica, podemos dizer que instituições privadas já vêm ditando os rumos da educação, seja no ensino superior, com as fundações privadas, com flexibilização das concessões de certificação do MEC. Seja no Ensino Médio e Fundamental, sobretudo, do sistema público, onde estados ou municípios vão passando a administração para o setor privado.  No interior de São Paulo são sete municípios onde a gestão da escola pública pertence a iniciativa privada, entre outras parcerias com a iniciativa privada somam 25% dos municípios em São Paulo(dados da Prova Brasil, exame do Ministério da Educação, Revista Veja). Já na Rede de Ensino Estadual de São Paulo o caminho é feito em direção a flexibilização na contratação de professores, com política de bônus, estreitamento do currículo do ensino médio pautado na concepção tecnicista/empresarial e direcionamento do conteúdo para as disciplinas e apoiada por acordos com a Fundação Victor Civita, cuja orientação ideologia é norteada pelas publicações do Grupo Abril que passaram a ser “livro” didático do terceiro ano do ensino médio. Os mesmos passos vão sendo dados na Rede de Ensino do Estado do Rio de Janeiro e em sua Capital, onde também permanece a política de Bônus, parcerias com iniciativa privada, a flexibilização na contratação, ONGs, e o intento de repassar gestão do ensino do Ensino Médio para a Fundação Roberto Marinho e do Ensino Fundamental para a Fundação Ayrton Senna.
Até aqui, compreendemos que a educação apresentada se processa no conflito ideológico e no futuro inexistente do mercado de trabalho. O que não é difícil entender, pois esta educação, apenas representa um momento da situação econômica e do modo de produção existente. 
 O que é a escola? A quem serve? Como funciona? E para quê funciona? São indagações que nos permitem entender onde estamos.  Qual a concepção de escola que necessitamos para construção do processo revolucionário? Que caminho seguir? Que fazer? Estas nos permitem caminhar.

F.S.S.